sábado, 2 de abril de 2016

Dissertação - Erros comuns

Pessoal, apliquei dissertações pros alunos das turmas A, B e C no dia 19/3 e, nas correções, detectei erros comuns, que merecem atenção:

Falta de clareza e concisão: frases muito longas, entremeadas por vírgulas, quando ficaria mais compreensível se elas fossem divididas em duas, ou três. Nesses casos, trocando vírgulas por pontos finais, e consequentemente novas frases, daria uma pausa maior na leitura, que é recomendada, facilitando a clareza e a compreensão de quem lê.

Parágrafos com uma frase só, às vezes curta: os parágrafos devem expor ideias, aspectos de um tema, desenvolvendo-se em duas ou três frases, pelo menos. Além de determinar, com mais clareza, a divisão das partes da dissertação: 1) introdução; 2) desenvolvimento (e argumentação); 3) conclusão. Sem essa divisão ficar nítida, a avaliação do texto inteiro sai prejudicada.

Vírgulas inadequadas: não se pode pôr vírgulas separando o sujeito da frase do verbo que se refere a ela. Mesmo que seja um sujeito composto, “grande” na frase. Nem entre o verbo e o objeto. A não ser que se coloque um trecho da frase entre vírgulas (uma antes e outra depois), fazendo uma pausa para explicação ou ênfase de algum aspecto particular (um aposto). Exemplos:

ERRADO - "No Brasil temos, muitos problemas na educação."
                    "Muitos estudantes, não possuem um amplo conhecimento."
CERTO - "No Brasil, temos muitos problemas na educação."
                "Muitos estudantes, sobretudo nas regiões mais carentes, não possuem um amplo conhecimento" (o trecho entre vírgulas é um exemplo de aposto)

Acentuação e pontuação: não se esquecer de pôr os acentos nas palavras devidas e os pontos finais no encerramento das frases! Um conhecimento maior de onde vai ou não acento só vem com muita leitura acompanhada de muita escrita (só uma ou outra tarefa não basta!). Pratique bastante, consulte o dicionário, vá atrás de respostas pras suas dúvidas de como escrever uma palavra, conjugar uma expressão, etc.

Repetição de palavras na mesma frase ou em frases vizinhas: não é um erro grave, mas mostra limitação vocabular. Usando sinônimos para evitar essas repetições, você mostra uma riqueza de repertório que conta pontos em seu favor. Isso também só se consegue com muita leitura e muita escrita. Exemplos:

"Um ensino diferenciado pode prender a atenção do aluno e o aluno se sentirá mais motivado" -> "Um ensino diferenciado pode prender a atenção do aluno e ele se sentirá mais motivado";

"Um aluno motivado aprende melhor. E um professor que ganha bem tende a tratar melhor o aluno" -> "Um aluno motivado aprende melhor. E um professor que ganha bem tende a tratar melhor o estudante".

Concordância de número (singular – plural): substantivo no singular, adjetivo e verbo no singular; substantivo no plural, adjetivo e verbo referentes a ele no plural. Parece óbvio, mas esse tipo de erro aparece, por descuido ou dúvida em alguns casos. Atenção, numa frase mais extensa, para identificar com qual substantivo aqueles adjetivos e verbos concordam/se referem, para fazer a concordância adequada. Casos particulares:
-> Verbos ter e vir: Ele tem – Eles têm / Ele vem – Eles vêm
-> Verbos derivados de ter e vir: O pacote contém – Os pacotes contêm / O problema advém – Os problemas advêm.

Proposta de intervenção na dissertação: não basta apresentar o tema corretamente (introdução), discorrer sobre os aspectos e contextos que o envolvem, mostrando prós e contras (desenvolvimento), se o texto tiver uma conclusão sem proposta de intervenção, melhoria e soluções para os problemas argumentados. É preciso se posicionar, de algum modo, e mostrar porque defende determinado caminho, saída, proposta, solução. Sem cair na tentação de optar pelo fechamento mais fácil, que é o lugar comum, o clichê, o jargão, o senso comum que beira a obviedade e já é sabido (e portanto nem precisaria ser colocado na redação...). Exemplos: "porque os alunos hoje são os profissionais de amanhã", "as crianças são o futuro do país", "a educação é a base para o progresso", "não existe almoço grátis", "com saúde não se brinca", etc.

Fuga do tema: Um erro mais grave do que não se posicionar ou apontar intervenções é fugir do tema em algum momento do texto (tem provas, como o ENEM, que zeram os pontos da redação se o aluno incorrer nesse erro). Por mais que você faça introdução e desenvolvimento ligadas ao tema, coerentes, com bons argumentos, se chegar nas linhas finais da conclusão e desviar do tema central, pecado mortal. Por exemplo: o tema é educação pública, você fala que não há investimento nela, assim como na saúde pública, mas acaba focalizando a saúde, em vez de voltar para a educação, falando de hospitais cheios, gente morrendo nos corredores, médicos se recusando a atender na rede pública, etc (por mais que esses apontamentos sejam corretos, não se vinculam diretamente ao tema central).

Crítica sem argumento: Não basta apontar o problema, criticar, julgar, dizer se é bom ou ruim, presta ou não presta, parando por aí. Isso é ficar na superficialidade do senso comum, como levantado no item anterior. Se explicita um juízo de valor, opinião, julgamento, diga porque pensa assim, mostre as razões, justifique suas colocações. Dissertações são baseadas em análises, argumentações, discussões que devem seguir uma lógica, coerência e clareza. Não pode emitir paixão, raiva, agressividade, revolta e ironia, extravasando o lado emocional. Aliás, envolvimento pessoal no texto não é nada recomendável (veja próximo item);

Primeira pessoa do singular  ("eu" acho, penso, gostaria, desejo, espero/ para "mim", na "minha" opinião, etc): Como dito acima, a dissertação é um texto em que você analisa, argumenta, pode se posicionar, tomar determinado partido, mas tudo dentro de uma racionalidade que o próprio texto explique, com um tom impessoal. Há formas desejáveis para você se colocar de forma sutil, sem conduzir o texto para o relato pessoal. O uso da primeira pessoa do plural ("nós") é um deles. Exemplos: "Consideramos a educação o princípio da formação do sujeito", "não podemos tolerar a violência em sala de aula"; "é consenso na nossa sociedade de que o investimento educacional é baixo. Outros, mais impessoais: "Nota-se que o professor ganha mal"; "é preciso incentivar a leitura".  

Expressões temporais: para falarmos de algo no passado usamos os verbos haver e fazer de forma impessoal, sempre na 3a pessoa do singular, mesmo quando acompanhados de palavras no plural: "Há tempos", "faz anos", "houve críticas" (e NUNCA: "Fazem anos", "houveram críticas", "a anos atrás"). Em expressões no futuro, a palavra "a" não tem crase nem relação com o verbo "haver": "Daqui a alguns anos voltarei ao interior" (e NUNCA: "Daqui há alguns anos voltarei ao interior).

- Uso da crase: só há crase na fusão da preposição "a" com os artigos "a" e "as". Se temos apenas a preposição "a" ou apenas os artigos "a" e "as", não tem o acento grave da crase (`). Como antes de palavras masculinas e de palavras femininas indeterminadas pelo artigo "a":
USA-SE: "à beira do abismo",  "atenção à separação silábica"; "em relação à proposta do governo".
NÃO SE USA: "a critério dela", "a propósito", "a preço de banana", "deu o presente a ela", "estava lá a contragosto", "em relação a todos os conteúdos".

Pronome "onde": uma dissertação deve respeitar sempre a norma culta, então não use expressões coloquiais, que na linguagem oral, das conversas cotidianas, estão disseminadas e habituais. Como as abreviações "pra" e "pro" (use "para a" e "para o") e o pronome "onde", que tendemos a usar, na fala, nas mais variadas situações. Mas pela norma culta, se não se refere a lugar, "onde" não está adequado.
Exemplos:
"Como na educação brasileira, onde os professores ganham pouco" (ERRADO -> use "na qual", "em que")
"Esperamos avanço no futuro, onde os professores terão melhores salários" (ERRADO -> use "quando", "no momento/dia em que")
"Na sala de aluna, onde o professor é desrespeitado" (CERTO).

Outras expressões viciadas da fala: 
"a nível", "a nível de", "em nível de" -> use "no âmbito de", "em relação a"
"a médio e longo prazo" -> use "em médio e longo prazo"
"elo de ligação" -> use "elo" ou "ligação", apenas (é redundância os dois na mesma expressão, pois qualquer elo só pode ser de ligação...)
(entre várias outras...)

Dúvidas, falem comigo ou as demais professoras de Português, sempre. :)
Sugestões, podem escrever nos comentários deste post ;)

Bruno Pessa (Coordenação)

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